Escrever é viver duas vezes um bom Momento.
Antonio C Almeida
SOMOS TODOS POETAS
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos

     Um clique, como se um interruptor fosse acionado, foi o som suficiente para acordar Raquel. O cobertor cobria a sua cabeça deixando tudo a sua volta em completa escuridão. O relógio marcava três horas da manhã e lentamente o cobertor foi sendo retirado até que sua cabeça ficasse totalmente descoberta. Deitada na cama pôde observar que, aparentemente, a luz da cozinha estava acesa. Levantou-se lentamente, colocou uma sandália que encostara frente à cama no momento de deitar, começou a caminhar em direção à cozinha.
     Estando no início do corredor de seu apartamento, ao observar o final, viu que a luz da cozinha saía pela sua porta e iluminava uma pequena faixa do corredor.  Começou a sua caminhada até a cozinha com a intenção de apagar a luz. Um passo e outro e seu coração acelerou, seus olhos se esbugalharam. Um vulto interrompeu a luz da cozinha mostrando a sombra de uma mulher. Continuou parada por alguns minutos até tomar fôlego e continuar a caminhada – talvez a sua mente pudesse estar pregando-lhe uma peça, afinal não tinha mais ninguém naquela casa se não ela. Frente à porta olhou cuidadosamente para dentro e verificou que não tinha ninguém. Apagou a luz e deu a volta para chegar novamente em sua cama e voltar para debaixo das cobertas.
     Um frio profundo tomou-lhe o corpo. Lançando sua mão em direção ao coração pôde verificar um bater acelerado tomar-lhe o corpo, levando-a a acreditar que em poucos minutos seu coração saltaria pela sua boca. Suas pernas perderam o equilíbrio; caiu de joelhos e olhou com atenção a sua frente. Envolta em uma forte luz, a imagem desfocada de uma mulher, que flutuava, gesticulava e emitia um pequeno som que ao ouvido de Raquel parecia um trovão na madrugada: - Corra! – Raquel desmaiou.
    A luz do dia entrou pela janela, tomou toda a casa e acordou Raquel. Ainda assustada olhou a sua volta procurando o que lhe derrubara na madrugada, mas nada foi encontrado. Olhando o relógio na parede observou que passava das sete horas da manhã. Caminhou até o seu quarto, tomou um banho, trocou de roupa e desceu para a rua a fim de entrar em seu carro e seguir para o trabalho.
     Com a mão trêmula, ainda envolvida nos acontecimentos da madrugada, abriu a porta de seu carro, entrou, ajustou o cinto e começou a arrumar o retrovisor. Uma imagem apareceu após o espelho ser apontado para o banco de trás do carro. Sentada na poltrona de passageiros gesticulava. Sua boca movia-se a pronunciar a palavra corra. Em sua testa estava escrito um nome, Melissa. Raquel pulou do carro e procurou olhar para dentro, não viu nada. Seguiu para o trabalho suando frio. Chegando ao trabalho correu para a sua mesa, procurou seu chefe – queria falar com alguém – não o encontrou.
     Meio dia, o chefe de Raquel chega ao escritório às presas, entra em sua sala e logo atrás dele entra Raquel:
     - Rogério, você não pode imaginar o que me aconteceu!
    - Calma Raquel, pode me falar, mas com muita calma, pois eu tive que providenciar um novo documento de identidade e perdi toda a manhã neste problema, fui roubado na noite passada.
   - Sinto muito, fico até chateada de te contar os meus problemas sabendo que você tem os seus.
     - Pode falar, fique a vontade.
    - Na noite passada e no meu carro... – Raquel fala sobre os últimos acontecimentos envolvendo o espectro de uma mulher.
     - Que impressionante.
    
- Mais impressionante ainda é que o fantasma era a imagem da estagiária. Tinha um nome na testa e coincidiu com o dela. Procurei-a quando cheguei ao trabalho e não a encontrei. Peguei o registro de cadastro dela, telefonei e ninguém atendeu.
     - Se acalme, no final do expediente vamos comer alguma coisa juntos e terminamos esta conversa.
     A noite se fazia presente quando Raquel e Rogério saíram de um restaurante. Rogério estava de carona e sugeriu que Raquel seguisse até um parque um tanto isolado do Centro da Cidade. Raquel não contestou, queria falar mais sobre o acontecido.
   O carro parou. O casal saltou do carro. Rogério se aproximou de Raquel, pegou-lhe pelo pescoço e começou a agitá-la perguntando:
     - O que você sabe sobre Melissa?
     - Nada, só o que falei para você.
     Raquel moveu seus brasos e atingiu com o punho a boca de Rogério, saindo então de suas garras, começou a correr para dentro de uma pequena mata que separava as pistas de dois sentidos.
     À noite sem lua dificultava a fuga de Raquel. Chegando à frente da pista do outro lado da mata percebeu que ao atravessá-la encontraria uma mureta que se seguia a um despenhadeiro. Ela pôde escutar as passadas de Rogério e resolveu atravessar a rua. Uma mão a impediu, ao olhar para trás a imagem de Melissa apontava para o lado e dizia-lhe para correr. Raquel obedeceu.
     Rogério chegou do outro lado da mata e a frente da pista. Do outro lado, encostada em uma mureta ele viu Raquel. Seus olhos expressaram surpresa quando a viu saltar pela mureta e cair no despenhadeiro. Ele atravessou a pista para olhar o que acontecera. Ao chegar do outro lado percebeu uma viatura da polícia chegando. Enquanto procurava explicar o que ocorrera viu uma figura se aproximando da viatura. Quanto mais se aproximava mais Rogério se apavorava, até que percebeu que a figura se tratava de Raquel.
     Na viatura de polícia se encontravam três policiais. Um dos policiais escutava o relato de Rogério, outro o relato de Raquel. O terceiro policial pegou uma lanterna e foi olhar se tinha alguma coisa no despenhadeiro. O policial voltou para a viatura. Pegou o rádio da patrulha, solicitou apoio dos bombeiros e outra viatura policial. Algemou Raquel e Rogério e os colocou deitados de barriga voltada para o chão. Em poucos minutos as viaturas chegaram. Os homens dos bombeiros jogaram uma corda mureta abaixo e um bombeiro, com todo material para escaladas, desceu o despenhadeiro. Não demorou muito e o bombeiro voltou, outros dois bombeiros começaram a puxar uma corda de apoio que descera junto e trouxeram o corpo de uma mulher.
     Uma brisa fria soprava balançando os galhos das arvores. A madrugada lançava sons que ecoavam do fundo do despenhadeiro. O corpo da jovem foi desvencilhado das cordas do bombeiro e colocado no chão. Os policiais levantaram Rogério e Raquel os empurrando em direção do corpo. Quanto mais se aproximavam seus rostos se desfiguravam ao ponto do desespero. Deitada, falecida, vestida de branco o corpo foi identificado. Nas mãos fechadas um papel chamava a atenção. O policial teve que forçar a mão do cadáver que se encontrava em Rigor mortis. De sua mão um documento revelava o nome da última pessoa que a acompanhava antes do assassinato: Rogério.
     Em alguns minutos o mistério foi revelado. Rogério foi colocado, algemado, no banco de trás da viatura. Raquel foi liberada, mas o medo rondava-lhe. A brisa fria da madrugada tocou-lhe a pele levando-a a se arrepiar. Ao olhar novamente para o corpo notou um brilho intenso. Olhando para os lados não percebeu reação em nenhuma das pessoas que a acompanhava naquela madrugada macabra. Um sopro suave chegou a sua nuca e a fez girar. Um espectro começou a surgir. Uma mulher sorridente balançava a cabeça acenando. Raquel caiu de joelhos, esfregou o rosto enquanto pronunciava uma palavra: - Melissa.
Fim...

 

    
    
      
Antonio C Almeida
Enviado por Antonio C Almeida em 13/02/2014
Alterado em 17/02/2014
Comentários