Escrever é viver duas vezes um bom Momento.
Antonio C Almeida
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Textos
     Desde pequeno Rogério apanhava de seu Padrasto. Um garoto rebelde, saudoso do pai e ainda sem afinidade com a nova vida. O que mais o magoava estava na ausência das festividades de natal, pois não fazia parte dos planos da nova família, mas se encontrava fixo na memória os momentos desta festividade em companhia de seu pai.
     Em um dia de sol radiante, jogando futebol com seus amigos, viu os colegas saírem da brincadeira alegando que deveriam se preparar para os festejos de Natal. Rogério pouco se animou, sabia bem que esta festividade estava fora de suas possibilidades. Sem colegas para brincar foi caminhando, frustrado, para a sua casa, onde encontrou seu Padrasto discutindo com a sua mãe. Retirou o tênis e arremessou-o em encontro ao seu Padrasto. De imediato o seu Padrasto se aproximou e o jogou em direção a uma estante que caiu sobre o pequeno corpo de Rogério.
     Passava das 23:40 horas da véspera de natal, os corredores do Hospital de Nossa Senhora estavam lotados. A mãe de Rogério foi chamada para o atendimento. Rogério chorava ao segurar seu braço que aparentemente estava quebrado. A voz doce da Médica, um atendimento tranquilo e preciso lhe trouxe a calma. Seu braço foi engessado, cuidadosamente imobilizado e mãe e filho puderam então sair do consultório por volta das 01:00 madrugada de Natal.
     A dor passara, o desespero se guardara e então Rogério pôde ver  o que a angustia lhe tirara. Todo o hospital estava enfeitado com arranjos natalinos. Na entrada do Hospital uma grande árvore enfeitava aquele local de dores. Os olhos do garoto brilhavam como as bolas de natal penduradas em todos os cantos. Ao caminhar para saída do Hospital, acompanhado de sua mãe, um segurança esticou a mão e lhe entregou um presente. Rogério olhou para a sua mãe que acenou com a cabeça permitindo que ele o recebesse. Um sorriso se fixou no rosto da criança.
 
     QUINZE ANOS SE PASSARAM
 
     Depois de completar 18 anos, Rogério, iniciou uma carreira na Escola de Oficiais do Exército. Saiu de casa e sempre que podia frequentava o Hospital de Nossa Senhora, especialmente no dia de Natal, levando um punhado de presentes. De tanto aparecer no Hospital gerara belas amizades e fora chamado de o Papai Noel de Nossa Senhora.
     Como a todos os anos na vésperas de Natal,  Rogério seguiu para sua entrega de presentes. No meio do caminho uma cena o chamou a atenção. Um carro batido em um poste prendera uma senhora e sua filha dentro do carro. O socorro ainda não chegara. Rogério parou seu carro próximo ao acidente. Forçou a porta conseguindo abrir. De dentro do carro ele consegui retirar a senhora e uma menina. Rapidamente as colocou em seu carro, olhou para os restos do carro e percebeu alguns documentos caídos, os colocou no bolso e seguiu para o Hospital.
     O Hospital lotado deixara as pessoas aguardando no saguão. Rogério, conhecido de todos, conseguiu que um enfermeiro o ajudasse a colocar a senhora e a menina em duas macas e saíram empurrando pelos corredores. Logo ao ser avistada por um Médico a senhora foi levada para uma sala para cirurgias. Desorientados os Médicos desejavam saber o tipo sanguíneo da senhora. Rogério lembrou dos documentos que recolhera no local e na identidade da senhora constava o seu tipo sanguíneo AB- . Então a senhora Marcela começou a ser tratada dentro das possibilidades do Hospital. Por ter conhecimento das dificuldades do Hospital Rogério se ofereceu para doar sangue. Uma dúvida pairou quanto ao tipo sanguíneo de Rogério e ele esclareceu:
     - A quinze anos eu dei entrada neste Hospital e a Médica que me tratou cuidou de verificar o meu tipo que me segue hoje anotada em minha identidade, AB-.
     Deitado em uma maca Rogério viu seu sangue ser retirado e depositado em duas bolsas de sangue. Recebeu um lanche e sentou em uma cadeira aguardando a recuperação pela doação. Seus olhos se fixavam no relógio do hospital. Como a todos os anos o Hospital se encontrava enfeitado e preparado para o Natal e ele tinha que pegar os presentes no carro.
     Um homem alto, vestido de um terno fino, chamou a atenção de Rogério. Ele conhecia aquela pessoa. Sua curiosidade se aguçou quando viu ele entrar na sala de espera do centro de cirurgias. Mas o tempo estava passando, o relógio marcava 10 para as 24 horas, então Rogério se levantou para pegar os presentes no carro, uma mão interrompeu sua caminhada:
     - Você que é o Rogério? -  Rogério escutou aquela voz, olhou para traz e teve a certeza de que aquele que o chamava era o segurança que lhe dera o presente numa noite de natal no hospital, agora líder sindical.
     - Sim.
     - Sei o que fez por minha família, a minha mulher esta se recuperando e a minha filha gostaria de falar com você.
     Rogério caminhou pelos corredores até chegar ao quarto da filha de seu benfeitor. Retirou dos bolsos o que sobrara de documentos que colhera no local do acidente e estava lá a identidade de Raquel. Esticou a mão para entregar os documentos e teve seus braços agarrados:
     - Você é o presente de Natal entregue para nós por Deus. - Raquel mirava seus olhos umedecidos para os olhos de Rogério.
     - Não, eu só fiz o que deveria fazer.
     - É que você ainda não percebeu.
     Rogério olhou calmamente para os olhos de Raquel, olhou para traz para o seu pai e fez uma pergunta:
     - Você gosta de Natal?
     Naquele momento Rogério percebeu que não era o dia de entregar presentes, ele estava recebendo o seu.
 
     Fim...
 
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Antonio C Almeida
Enviado por Antonio C Almeida em 03/07/2015
Alterado em 03/07/2015
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