O inferno de Rogério
Fazia mais de quarenta graus, a praia estava apinhada de gente, todo o tipo de pessoa. De um lado um grupo se divertia em um churrasco cuja carne exalava um odor que se espalhava por uma grande parte da praia, deixando muitos com o desejo de saborear aquela carne; do outro lado várias mulheres estendera em linha suas toalhas, se deitaram de costas para o céu, deixando o seu corpo dourar enquanto os homens passavam diversas vezes, ora se esbarrando, sem cansar de olhar aquelas maças do desejo, no quiosque muitos tentavam diminuir o efeito do calor sorvendo uma cerveja bem gelada. Tudo parecia estar sendo conduzido por um maestro e sua batuta, uma linda sinfonia de cores, desejos e beleza, mas algo chamou a atenção de todos e aquela atmosfera foi rompida, pessoas ficaram assustadas, se afastavam, dando passagem a uma figura que aos poucos ia ficando nítida. Um homem nu corria pela areia perseguido por policiais, todos na praia esqueceram um pouco de seus afazeres, perceberam o que acontecia e começaram a rir, não poderiam deixar de rir, já que o homem gesticulava, corria em ziguezague como em uma cena de filme dos anos sessenta em que a polícia, com seus porretes em punho, tentam em vão acertar o protagonista, realmente muito engraçado; para muitos parecia um louco, para outros um nudista, mas entre tantas opiniões todos concordavam, era muito engraçado mesmo; em certo momento o homem entrou na água, nadando para além areia e fazendo com que a cena ficasse mais engraçada ainda, os policiais com receio de molhar os seus uniformes ficaram o observando da areia, gritando e gesticulando, até que a comédia se transformasse em drama, pois o homem afundou no oceano e apareceu depois de agonizantes trinta minutos, entre as ondas que batiam na areia, desfalecido e pouco após percebeu-se, morto, seu nome era Rogério.
Três horas da manhã, em um táxi que circulava pelas ruas da cidade se encontrava Kandra, gemendo, chorando, apertando o braço de Rogério que preocupado não parava de falar ao ouvido de sua namorada palavras que a fizesse ficar mais tranqüila; o motorista apertava o pé no acelerador e preocupado, com o que poderia acontecer em seu táxi, não parava de olhar no espelho retrovisor do carro, procurando no seu reflexo, ao observar o casal, sinais de que a situação não sairia de controle.
O táxi pára em frente ao hospital e Kandra escorada pelo namorado sai do táxi e caminha desengonçada até a porta de entrada da emergência onde um enfermeiro a aguardava com uma cadeira de rodas pronta para recebê-la. Rogério, ao lado do enfermeiro, tentava desesperadamente demonstrar, através de um comportamento equilibrado, tranqüilidade e segurança, enquanto Kandra berrava, dizendo-se arrependida de todas as coisas de sua curta vida, o que ela lembrava ter feito e se assegurando de não repeti-las, chorava, se sacudia enquanto entre as suas pernas um líquido se espalhava molhando a cadeira e a sua camisola, assustada ela sacolejou a cadeira e ela e a cadeira tombaram enquanto o enfermeiro e Rogério tentavam impedir a queda, mas Kandra foi lançada no chão frio do corredor; outro enfermeiro que empurrava uma maca vendo o acontecido correu em auxílio, com a ajuda de seu colega colocaram kandra deitada na maca e de uma forma acelerada a levaram para a sala onde seria realizado o parto. Rogério se escorou na parede, enquanto Kandra sumia do alcance de sua visão, só então todos os fatos lhe vieram à mente e ele começou a chorar. Aliviado se virou e voltou para a rua onde encontrou o taxista aborrecido pela espera, ele entrou no táxi e pediu ao motorista que o levasse a Rodoviária da cidade, no caminho o motorista olhou para o seu passageiro pelo retrovisor e lhe falou – que inferno meu amigo, e Rogério prontamente lhe respondeu – não acredito em inferno, chegando à rodoviária Rogério o pagou e correndo entrou no primeiro ônibus que avistou, sete horas da Manhã.
Passam-se seis anos
Rogério corria pela sala enquanto Kandra, aos berros, mandava que ele se arrumasse rápido para poder levá-lo a escola; com uma sacola no ombro contendo o lanche de Rogério, ela tentava arrumar o seu uniforme, quando teve oportunidade agarrou seu filho pelos braços e o arrastou para fora de casa o levando até o ponto de ônibus, ambos entraram no veículo e partiram para uma viajem que levaria Rogério para a escola e Kandra para o seu trabalho, dia como outro. Kandra chega ao trabalho apressada, cumprimentou os colegas de trabalho e tratou de colocar o seu avental, alguns fregueses se encontravam em suas mesas acenando aparentando estarem desesperados, loucos para fazer o seu pedido de café da manhã, Kandra começou a cortar os pães, passar manteiga e colocar queijo, mortadela, ao gosto do freguês, olhou o relógio, 07h30min, Rogério só sairia da escola às 18h30min, segurou a aba de seu avental e secou um pouco do suor que descia pelo seu rosto.
Passam-se Sete anos
Algumas pessoas se abraçavam ao redor do caixão simples que levaria o corpo de Kandra para o fundo de uma cova feita às pressas na noite anterior, Rogério se segurava para não chorar na frente daqueles desconhecidos, ele era um garoto de treze anos e teria que deixar o momento de fraqueza para os momentos em que tivesse em seu quarto encostado na parede, nascera sem pai e agora não tinha a pessoa que mais amava.
O carro de Rogério parou em um sinal de trânsito e Rogério aproveitou para pensar rapidamente na estratégia que apresentaria no trabalho para conquistar um cliente, neste dia ele iria se reunir com a equipe que seria responsável pela elaboração e posteriormente à apresentação de um projeto para a divisão de engenharia da empresa Eternal Construction, empresa que ganhara a concorrência para a construção de um novo Centro Cultural na Cidade, que tinha como propósito possibilitar ao público o acesso a bibliotecas, galerias onde seriam expostos trabalhos consagrados nacionalmente e dos artistas locais e teria entre os seus andares a nova sede da Prefeitura. Para que o contrato fosse cumprido uma das exigências da Prefeitura, para com a empresa que ganhara a licitação, era a da mudança no projeto inicial de Arquitetura, para tanto à empresa abriu uma concorrência a fim de conseguir um projeto melhor do que a que ele apresentara à prefeitura; a empresa onde Rogério trabalhava estava entre as concorrentes e o encarregou de fazer a apresentação.
Rogério desceu do ônibus próximo ao seu trabalho, caminhou até chegar à portaria do prédio onde ficava a sede da empresa em que trabalhava, cumprimentou os funcionários e pegou o primeiro elevador que estava disponível, chegando ao andar da empresa, caminhou até o gabinete do Diretor que logo ao vê-lo se apressou em cumprimentá-lo e pelo interfone da empresa chamou outros funcionários que junto a Rogério formariam uma equipe. Após alguns minutos os componentes da equipe se encontravam sentados diante de uma mesa retangular, enquanto a sua frente Rogério fazia uma explanação do trabalho que pretendia desenvolver para ser apresentado a Construtora, o cliente do momento, cansados os funcionários saíram do escritório do diretor e caminharam até uma sala devidamente preparada para acomodar os componentes da equipe, Rogério novamente se colocou à frente da mesa de trabalho e começou a esboçar uma linha de ação dividindo o trabalho do grupo em duas fases, a primeira fase seria a do desenvolvimento do projeto e a outra cuidariam dos detalhes para apresentação. O grupo depois de várias horas de acertos e debates saiu da sala de reunião com a intenção de irem para os seus lares, passavam das 22:30min, caminharam até o elevador ainda discutindo sobre ângulos, medidas, calculo de espaço.
23:30min, Rogério chega em casa, caminha lentamente pela longa sala, encontra Raquel deitada no sofá assistindo a um filme, ele caminha cauteloso para tentar não chamar a atenção, quando ela percebe a presença de Rogério se levanta rapidamente e lhe dá um longo abraço, o olha nos olhos segurando o seu queixo enquanto lhe fala suavemente:
- Roge... Chegaram às contas e não sei se foi bom negócio trocarmos de carro, nós estamos no limite.
- Quel... Relaxa amor, eu consegui!
- Consegui! Gritou Raquel dando vários saltos em volta de Rogério, que deu uma longa gargalhada e jogou a sua pasta, onde carregava todos os documentos de trabalho para o alto.
Raquel segurou a cabeça de Rogério, jogou os seus cabelos para trás da cabeça e começou a dar-lhe vários beijos enquanto falava o quanto o amava. Rogério a pegou no colo e a colocou sobre o sofá.
Passaram-se semanas de preparação e elaboração do projeto, o grupo estava exausto, Rogério chamava a atenção de todos quanto à importância da conclusão perfeita do trabalho. Por volta das 13h00min horas o grupo saiu para fazer uma pré-apresentação do trabalho junto ao Gerente da empresa de Construções que ganhara a licitação e mais alguns funcionários desta. A sala de reuniões da empresa, cliente, estava apinhada de concorrentes que tinham o mesmo objetivo do grupo de Rogério. Após longas apresentações de todas as empresas interessadas o Gerente tomou a palavra, deu longos elogios a todos os concorrentes e entre as dez empresas que se apresentaram o Gerente escolheu três e a empresa de Rogério foi incluída entre as três empresas que fariam a apresentação final, comedido Rogério agradeceu a confiança do cliente e se retirou.
Satisfeito com os fatos ocorridos naquele dia, Rogério saiu com o grupo que se constituía de três homens e quatro mulheres, para um restaurante próximo e começaram a beber. Animado Rogério passou um pouco de seus limites para a bebida e ele acabou ficando mais que os outros membros da equipe no estabelecimento. Por volta das 11h00min, Rogério agora acompanhado apenas de seu homem de confiança da equipe, Ronaldo, continuavam a mesa rindo e comemorando, falava tão alto a ponto de incomodar alguns freqüentadores do local, um garçom chegou próximo a dupla os advertindo e aos cochichos falou ao ouvido de Rogério que uma mulher do outro lado da sala havia lhe falado do desejo de conhecê-los, Rogério virou levemente a cabeça e pôde observar uma linda mulher com o olhar fixo aos seus, Rogério olhou para Ronaldo que logo entendeu o recado, se levantou e saiu do bar. Rogério se levantou e caminhou até a bela mulher e se iniciou então um breve dialogo:
- Posso me sentar?
- Já se sentou! Falou-lhe a bela loira, sorridente e curvando a cabeça procurando parecer constrangida com a abordagem de Rogério.
- Estou comemorando, até a pouco tempo eu não acreditava que poderia existir sensação melhor do que a que eu estava sentindo até olhar para o seu rosto.
- Não é tanto assim.
Rogério se apressou em empurrar a sua cadeira para próxima a da mulher e falou-lhe ao ouvido – O que você acha de nós sairmos para um local melhor que este.
- Acabamos de nos conhecer! O que você está planejando?
- Nada de mais, apenas rodarmos um pouco pela cidade e depois te deixo em casa.
- Bem, eu estou mesmo precisando de uma carona, mas não pense que você está lidando com qualquer uma.
Rogério segurou a mão de Tânia, chamou o garçom e pagou à conta, de mãos dadas o casal saiu do bar, Rogério abriu a porta de seu carro e Tânia entrou e se acomodou no banco do carona, Rogério entrou no carro e começou a guia-lo:
- Você sempre freqüenta este bar? Perguntou Rogério.
- Não, eu estava de passagem e resolvi beber alguma coisa e acabei perdendo a hora.
- Não deveria se arriscar assim pela cidade, você é uma mulher muito bonita e por ai se encontra todo o tipo de pessoa.
- Mas encontrei você.
Rogério tirou uma de suas mãos do volante e a colocou entre as pernas de Tânia, ela o olhou com um olhar reprovador e Rogério tirou a mão de entre as pernas dela ao mesmo tempo em que se desculpava. Tânia abriu um leve sorriso, pegou a mão de Rogério e a colocou novamente entre as suas pernas, segurou o braço de Rogério e colocou a sua cabeça sobre o ombro dele. Rogério percebeu que naquele momento passava ao lado de um motel e rapidamente girou o volante e mudou a direção do carro indo de encontro ao Motel.
Dez horas da manhã, o telefone celular toca repetidamente, Rogério acorda em sobressalto, olha em sua volta e percebe que está em um motel, busca em sua mente alguma imagem que pudesse lhe explicar o que fazia naquele local, não lembra e olha o número que aparecia em seu celular, era a de sua casa, provavelmente a sua mulher o estava procurando. Rogério salta da cama e liga para a portaria, rapidamente uma pessoa coloca por baixo da porta do apartamento a conta do motel, (um mil e oitocentos reais), Rogério dá um passo para traz, coloca a mão no queixo e arregala os olhos, pega o seu cartão e desce até a garagem, não encontra o seu carro e caminha até a portaria do motel, pergunta sobre o seu carro e lhe informam que a Esposa dele saíra com ele e informado que não deveriam incomodá-lo, pois dormiria até tarde. Rogério se desesperou e tentou sair, mas foi segurado pelo porteiro que sem nenhuma gentileza o cobrou pelo uso do quarto do motel.
Rogério, apertado entre as pessoas de um ônibus, estava apavorado, pois no porta-malas do seu carro se encontrava todo o projeto e alternativas cuidadosamente estudadas e frutos de semanas de trabalho, tudo que poderia se fazer para recuperar o carro ele havia feito, ligou para a polícia, descreveu a mulher que o abordara no bar e que o roubara o automóvel, acionou o seguro, ele teria agora que encarar a esposa e pior o seu chefe.
Rogério entra assustado em casa e encontra Raquel falando ao telefone, ela ligara para polícia, ao ver Rogério o pergunta sobre o que ocorrera, Rogério lhe conta detalhadamente a estória de um assalto onde envolvia quatro homens armados. Raquel avisa Rogério que lhe ligaram do trabalho e que ele deveria ir imediatamente. Rogério pega algum dinheiro que deixara em casa, acalma Raquel e chama um táxi.
Duas horas da tarde, Rogério chega até o andar do prédio onde se encontra o seu trabalho, ao se abrir à porta do elevador foi recepcionado por todos os funcionários que lhe davam parabéns, através de tapas nos ombros pelo trabalho bem executado, no fundo do corredor o seu chefe o chamava de braços abertos e com um longo sorriso. Rogério caminhou até a sala do chefe, recebeu o longo abraço e foi empurrado para dentro, sentou-se em uma cadeira que se encontrava à frente da mesa do seu chefe.
- Parabéns garoto.
- Não havia necessidade de tanto, respondeu Rogério procurando reprimir o seu apavoramento.
- O que você fez, ou melhor, o que fará, irá colocar a empresa no nível das melhores do ramo, iremos mudar deste prédio, com o tempo que levará para a conclusão do projeto e os funcionários que colocaremos lá, entraremos de vez no grupo das empresas endinheiradas, não conte ao resto do grupo, mas você receberá, você! Uma comissão e é claro o cargo de diretor, estamos dentro rapaz, os meus contatos me falaram que nenhuma empresa concorrente tem a possibilidade de nos derrubar, a próxima apresentação é só protocolar.
Rogério olhou para o seu chefe e abriu um longo sorriso, levantou da cadeira e deu um soco no ar, apertou a mão do chefe e ambos deram uma longa gargalhada, o chefe de Rogério abriu uma garrafa de champanha, serviu Rogério, fez questão de colocar na boca de Rogério o primeiro gole de sua taça, Rogério deu um longo abraço no chefe e lhe pediu licença.
Rogério saiu da sala do seu chefe, foi aplaudido por todos os funcionários do andar e falando aos seus colegas que teria que resolver alguns assuntos pendentes saiu do escritório, entrou no elevador e desceu três andares, saiu do elevador correndo, entrou no primeiro banheiro que encontrou, procurou um sanitário vazio e antes de se sentar, ainda de roupa, sentiu que a urina e as fezes desciam pelas suas pernas e sussurrou entre os dentes - Inferno.
Rogério tirou toda a roupa e jogou dentro do vaso sanitário, apertou à válvula de descarga várias vezes como se quisesse transformar o vaso sanitário em uma máquina de lavar, observava a roupa detalhadamente até se dar por satisfeito, pegou a roupa e após torcê-la percebeu que dela exalava um odor insuportável, em sua mente entre várias soluções loucas para resolver o problema ele pensou, “meu Deus como que algo tão fedido poderia ter saído de dentro de mim”, colocou a roupa e procurou olhar para todos os lados, saiu do banheiro e entrou na sala de serviços do andar, conseguiu encontrar um macacão que estava pendurado em um armário entre vassouras, panos de chão e outros utensílios de limpeza, o colocou e conseguiu sair do prédio.
Rogério entrou no primeiro ônibus que o levaria para casa, dentro do ônibus ele transpirava, tremia, colocou a mão no rosto e começou a chorar, as pessoas a sua volta procuravam se afastar daquela pessoa que fedia como a uma fossa, como uma latrina aberta; chegando a frente de sua casa Rogério desceu do ônibus e entrou em casa:
- O que é isto Rogério, você está imundo, fedido o que está acontecendo?
Rogério colocou a mão sobre o rosto e começou a chorar, olhou para Raquel, tentou explicar os acontecimentos das últimas horas, Raquel o observou assustada, começou a gritar e Rogério tentou abraçá-la na intenção de acalmá-la:
- Roge... O que você fez, tente explicar sobre o assalto! Você não tem culpa!
- Quel... Eu não te contei a verdade, neste momento Rogério começou a relatar o que realmente ocorreu.
Raquel sentou-se no sofá da casa e olhou para Rogério com os olhos arregalados por alguns estantes e logo após parecendo suplicar por alguma notícia que apaziguasse aquela situação:
- Rogério, eu vou te deixar.
- Não Quel, eu vou resolver tudo.
- Rogério, logo que você entrou pela porta eu tinha a intenção de lhe avisar que ligaram da delegacia, encontraram o seu carro.
- Está vendo, resolveremos tudo!
- Não, você vai resolver tudo!
- Espere-me um pouco, tudo vai se resolver.
Rogério caminhou até o banheiro para tomar um banho, se trocar, deixando Raquel aos prantos na sala, ela começou a visualizar todas as dívidas, todos os acontecimentos, começou a imaginar a noite de Rogério com a mulher que ele encontrara, dando razão a ela, foi até a cozinha e lavou o rosto com a água da torneira da pia, o secou com o pano de prato, atitude que a muito a revoltava quando partia de Rogério. Rogério saiu do banheiro e encontrou Raquel ao lado da porta de saída, ele caminhou até a sua esposa a olhou e empurrando o seu rosto contra o dele falou-lhe ao seu ouvido – tudo se resolverá e Raquel o respondeu – com certeza.
Rogério saiu de casa e caminhou até o ponto de ônibus, na casa Raquel em desespero, chorava compulsivamente, pegou o telefone e ligou para a sua mãe, após uma conversa rápida ela ligou para alguns amigos, vizinhos, ligou para uma amiga mais próxima:
- Alo mel, é a Quel.
- Que foi menina, por que você está chorando? – Raquel explicou, para sua amiga, o que ocorrera.
- Meu deus o Rogério perdeu todo o controle. Raquel você tem que tomar alguma providência e eu posso te ajudar, o meu pai tem um apartamento vazio e...
Logo após a conversa Raquel desligou o telefone, foi até o banheiro e começou a tomar banho ao mesmo tempo em que chorava e esmurrava a parede do banheiro.
Chegando a delegacia Rogério fala com o atendente que o avisa de que ele era um homem de muita sorte, pois o carro estava em perfeitas condições, porém deveria ficar retido por mais algumas semanas, para auxílio na conclusão do processo. Rogério acompanhou o policial até o pátio onde ficavam as viaturas recuperadas, pôde ver o seu carro a distancia e ao se aproximar percebeu que ele estava sem os pneus e todo o equipamento de som, - isto é em perfeitas condições? – Falou Rogério ao policial que apenas o olhou com um ar reprovador. Rogério tratou de pedir para que o guarda abrisse o porta-malas do carro e neste momento ele pôde constatar que este estava vazio, Rogério perdeu o equilíbrio nas pernas e caiu desfalecido.
Dez horas da manhã, Hospital dos Corações Aflitos. Rogério levanta assustado de uma cama de enfermaria, a sua volta dezenas de pessoas, um médico ou enfermeiro se aproximou de Rogério – Que bom que o senhor acordou!
- O que faço aqui doutor? O que está acontecendo?
- Calma, senhor Rogério, o senhor deu entrada ontem aqui no hospital, o senhor teve uma parada respiratória, que culminou com um breve coma, mas agora tudo está bem.
- Ontem?
Rogério pulou da cama, enquanto o médico o olhava assustado, pegou as suas coisas e saiu do hospital, na rua ele pegou o primeiro ônibus que poderia lhe levar para casa, desceu do ônibus próximo a sua casa, caminhou, abriu a porta, a casa estava vazia, Rogério correu casa adentro procurando sinais de Raquel, entretanto ele apenas escutava o eco de sua voz, Rogério sentou-se no chão e começou a chorar, até que tocou o telefone.
- Alô...
- Rogério aqui é Ronaldo, onde que você estava, está todo mundo te procurando.
- Eu tive um desmaio, não sei a onde, minha mente esta meio confusa.
- Confusa! Confuso está aqui no trabalho, a Ana ontem a noite apresentou um trabalho alternativo baseado no que nós fizemos e acredite, foi um excelente trabalho, bem melhor e com todo o conteúdo do seu e ainda algo mais.
- Foi ela - Rogério olhou apavorado para os lados.
- Ela o que Rogério? A Ana apresentou o trabalho porque o chefe estava preocupado com os boatos, é verdade o que a Ana falou?
- O que a Ana falou?
- Que você perdera todo o projeto, o nosso trabalho e logo após foi confirmado, sua esposa ligou aqui para o trabalho.
Rogério termina a conversa com o seu amigo e procura na casa algo para vestir, troca de roupa e corre para pegar um ônibus, ele observa que na sua carteira havia pouco dinheiro e antes do ponto de ônibus de seu trabalho ele desce para pegar um pouco de dinheiro em uma caixa automática, coloca o seu cartão, digita a sua senha, logo após ele recebe uma mensagem, “SALDO ESGOTADO”, Rogério se assusta, ele tinha consciência de que continha em sua conta mais de Dois mil reais e ainda os Cinco mil de seu Cheque Especial, Rogério tira um extrato das suas contas e percebe, no dia anterior ocorreu uma retirada de todos os valores de todas as suas contas mais os limites de crédito e até um empréstimo de Vinte e cinco mil reais, para desconto em conta, no total foi retirado de sua conta Quarenta e cinco mil reais, tudo que ele tinha e podia retirar.
Rogério dá um passo para trás, para por alguns instantes e procura imaginar o que poderia ter acontecido, ele caminha cambaleando até um telefone público e liga para uma amiga de Raquel.
- Alô, aqui é a Mel.
- Mel, graças a deus aqui é...
- Já sei quem está falando, não adianta procurar a Raquel ela está fora da cidade, não se preocupe com nada, ela está procurando um advogado e tirou algum dinheiro da conta para despesas de emergência, adeus canalha – mel desligou o telefone.
Rogério ficou paralisado, mas se conteve e procurou caminhar até o seu trabalho, chegando ao escritório em que trabalhava percebeu que todos os seus companheiros de trabalho, amigos de longa data davam-lhe as costas, ele caminhou até a porta da sala de seu chefe e foi informado pela secretária que ele não seria recebido, mesmo assim Rogério entrou na sala de seu chefe.
- O que faz aqui Idiota! – gritou o chefe de Rogério.
- Eu gostaria de explicar o que aconteceu.
- Você não tem nada a explicar, está despedido!
- Você não pode me despedir! – gritou Rogério a seu chefe ao mesmo tempo em que se aproximava.
O chefe de Rogério mandou que chamassem a segurança do prédio, Rogério entrou em pânico e começou a quebrar cinzeiros, quadros e tudo que ele encontrava em sua frente, a segurança chegou e começou a arrastar Rogério para fora do prédio, seus colegas de trabalho o olhavam assustados, ao chegar fora do prédio uma viatura da polícia aguardava Rogério, assustado Rogério instintivamente socou o policial na barriga, este que revidou dando vários socos em toda à parte do corpo de Rogério, Rogério foi jogado dentro da viatura de polícia.
Vinte e três horas, o delegado libera Rogério após fichá-lo e adverti-lo de que deveria se conter e não deixar de comparecer na delegacia no outro dia. Rogério sai da delegacia, entra no primeiro ônibus que passa, salta próxima a praia e começa a caminhar na areia, sem que ele perceba as horas vão passando e o local começa a ficar cada vez mais escuro e isolado, até que Rogério sente uma forte pancada na cabeça.
- Passa tudo cara! – três jovens abordam Rogério e começam a chutá-lo e a revista-lo.
- O cara não tem nada, vamos acabar com ele.
Foi neste momento que um dos jovens ao olhar a identidade de Rogério lhe fala.
- Cara você é meu pai! – os outros dois companheiros olham assustados para o seu amigo.
- Seu pai? Rogério e lá você tem Pai? Falavam os amigos de Rogério em corro.
- É..., É pai a vida é engraçada, não é mesmo um inferno. Segurando a cabeça de Rogério próxima a sua falou-lhe aquele filho que há muitos anos abandonara em um hospital, um fantasma do passado.
Rogério é surrado até ficar inconsciente, os colegas de Rogério desejavam acabar tudo sem testemunhas mais foram impedidos, - Calma pessoal é o meu pai, já acabamos com ele, vamos cobrir de areia e darmos o fora.
Fazia mais de quarenta graus, a praia estava apinhada de gente, Rogério acordou sentindo o seu corpo queimar, olhou em volta e percebeu que estava com metade de seu corpo enterrado na areia e completamente nu ele se levantou, alguns policiais o viram e começaram a correr em sua direção gritando – para vagabundo, ele correu em direção de várias pessoas que aproveitavam um dia de sol quente, ao vê-lo todos se afastavam dando passagem – o que faço, minha vida é um inferno, falava Rogério enquanto fugia da polícia, gesticulava e corria em ziguezague como em uma cena de filme dos anos sessenta em que a polícia com seus porretes em punho tentavam em vão acertar o protagonista, Rogério virou o seu corpo em direção a água e entrou no oceano, nadando até aonde poderia agüentar, os policiais ficaram à margem da água preocupados em não se molhar, Rogério estava cansado, surrado e desmotivado, parou de nadar e deixou que seu corpo afundasse no oceano.
Quatro horas da tarde, uma luz intensa perturbava os olhos que aos poucos se abriam e deslumbraram uma linda mulher, vestida de branco, com um belo sorriso falava carinhosamente – é bom ter você de volta.
- Estou no céu? - perguntou Rogério assustado.
- Lindinho, com certeza não é o céu, mas muitos dizem que o inferno é aqui.
Antonio C Almeida
Enviado por Antonio C Almeida em 17/04/2009
Alterado em 21/05/2009