Escrever é viver duas vezes um bom Momento.
Antonio C Almeida
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              Anjo Meu
 
     (...) O trânsito estava denso. Meu carro um tanto desgastado pelo tempo de uso. Preocupado dirigia entre vários carros que se espremiam na estrada. Para fugir do tráfico resolvi seguir por uma estrada de barro. Meu carro balançava consequência dos buracos e pedras. Lutava com o volante. Avançando estrada à dentro me encontrei beirando um barranco, que me levava a espremer o carro contra as paredes da colina. Suado, arrependido pela opção tomada, tremia. Um animal cruzou a estrada, parou frente ao carro. Instintivamente joguei o carro fora do caminho do animal, seguiu-se escuridão.
Uma luz ofuscou os meus olhos. Saia da escuridão para a luz e meus olhos lentamente conseguiam ver uma figura. Todo meu corpo apresentava dor. Como se sofrera uma grande surra aplicada continuamente até que os meus ossos se partissem em diversos pedaços. Percebi então que estava sendo colocado dentro de um carro. Olhei atendo o que ocorria e vi que uma pessoa, frágil, que tentava me acomodar. Não identificava se homem ou mulher, mas quando esta se deu por satisfeita acelerou e me levou para um hospital.
Existia um cheiro um tanto desagradável no ar. Parecia que o mundo estava totalmente branco. Paredes, lençóis, cobertores, tudo neste mundo monocromático.  Uma perna estava  engessada. Virei com dificuldade e observei que um menino, ou menina, estava ao meu lado, então tentei falar. Foi-me colocada uma mão sobre a minha boca. Uma mulher, percebi pelo perfume, pela suavidade, pela maciez e o cuidado tomado.
Passaram-se quadro dias, e foi me dado alta. Os ferimentos, apesar de terem sido dolorosos não eram vitais, possibilitando até que eu saísse andando do hospital. O gesso ficaria por mais algum tempo. Percorri todo o hospital procurando pela pessoa que me salvara a vida, mas ela não estava. Procurei na recepção e fui informado que a pessoa que me dera assistência não morava na redondeza, mas que o circuito de vigilância, que filmava todas as pessoas que entravam no hospital, poderia ter captado a imagem, que me fora informado se tratar de uma moça.
Com a foto da minha salvadora eu pude perceber que ela era pequena e magra. não teria a mínima possibilidade de me ajudar e me movimentar, mas teve a vontade que lhe trouxe a força necessária, minha pequena gigante. Rodei toda a cidade, fui até o local do acidente, meu carro estava todo revirado, percebi que ao lado dele havia outro carro que sofrera um acidente parecido e que pelo seu estado o acidente havia ocorrido há muito tempo, mas neste amontoado de ferragem pude encontrar um papel que continha um endereço e uma foto. Assustado corri até onde me levava aquele endereço e parei em frente a uma casa velha, com um quintal largado no tempo, a pintura de toda a fachada destruída.
Respirei fundo e fui até a porta de entrada. Bati algumas vezes - não tinha campainha - , uma pessoa com uns trinta e tantos anos atendeu a porta. Perguntei se conhecia alguma moça parecida com a imagem que eu trazia, ela olhou a foto e desmaiou. Trazia a foto de sua irmã.
Marcela 35 anos, a mulher que me salvara a vida.  há alguns anos morta em um acidente de carro. Meu Anjo.
 
Antonio C Almeida
Enviado por Antonio C Almeida em 31/05/2009
Alterado em 12/04/2019
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