- É um caminho sem volta e ele envolve três etapas. Esta sua seria a segunda. Eu o aconselho a pararmos por aqui.
- Se na primeira etapa eu tive a noção, a consciência da existência eu considero que devo prosseguir.
- Você é o dono de seu destino! Mas existem vínculos, com a vaidade, desejos oprimidos. Tudo relacionado ao que não existia, existe e nunca mais existirá. Acredito que hoje você me ajudará a matar dois demônios.
- É confuso, eu não compreendo.
- Não se preocupe você compreenderá, mas lembre-se o demônio trabalha com a mentira. Saiba que a existência é uma gota de água em um grande oceano, num universo de consciência infinita. Um escritor chamado Dante descrevia que o limbo é o local onde as almas que não puderam escolher a cristo, mas escolheram a virtude vivem a vida que imaginaram ter após a morte. Não têm a esperança de ir ao céu, pois não tiveram fé em Cristo. Ali também ficam os não batizados e aqueles que nasceram antes de Cristo, como Virgílio. Na mitologia clássica, o Limbo não fica no inferno, mas suspenso entre o céu e o mundo dos mortos. Dante escreveu sobre este assunto quando vivia o seu próprio inferno. Construiu o final de sua obra em exílio e, por conseguinte, querendo lançar seus inimigos nas profundezas de sua história.
- Mas qual a ligação de Dante com a minha aceitação ao designo de matar demônios.
- Ele escreveu sem saber que estava certo. A proximidade do mal é a razão para sofrermos por seu reflexo, o bem é distante e quase inatingível.
- Eu gostaria de matar demônios e espero que o meu premio seja a eternidade!
- E será. Você nasceu em uma família abastada, mas mesmo tendo as melhores escolas se tornou um transgressor.
- Eu transgressor! Você esta totalmente enganado.
- Você, como diretor de sua própria empresa comprou imóveis por preços módicos, arruinando a vida de famílias. Contratando marginais para apavorar as pessoas da comunidade e dando-lhes como única opção fugir e entregar seus patrimônios.
- Apenas negócios.
- Eu sei. Você transformou sua mulher em uma louca, a deixando saber de seus casos promíscuos além das mortes causadas pela maldição lançada por suas mãos.
- Tudo é a vida, vários amigos meus viveram os mesmos fatos e continuam!
- É por isso que você será o meu matador de demônios e agora você começou a enxergá-los.
Márcio deu um passo para traz, olhava angustiado para Roberto. Por alguns meses Roberto o orientava como a um pastor depois de todos os fracassos que chegaram após uma vida de sucessos. Sua esposa que o abandonara, a empresa que se encontrava em dificuldades e seus amigos que se afastaram. Márcio acreditava saber sobre a existência do bem e mal. Roberto continuou com o seu diálogo:
- Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: O que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igreja. São palavras do apocalipse e antes que chegue a terra ele chegará a cada um de nós.
Márcio olhava assustado para Roberto. Que lhe falava com toda a propriedade sobre a sua ruína e a sua chance de acabar com todos os seus problemas existenciais se dedicando a matar demônios.
- Márcio seu ensinamento agora terá continuidade através de um teste. – Roberto falava enquanto Marcio apreensivo o observava atento. Roberto estendeu uma arma e a colocou na mão de Márcio.
- Márcio você deverá apertar o gatilho desta arma enquanto ela estiver apontada para a sua cabeça. – Marcio ficou assustado, enquanto tentava argumentar com Roberto, mas no fim Marcio compreendeu que nada lhe aconteceria, pois ele era um matador de demônios.
Roberto começou a falar palavras desconexas e a incentivar Marcio a disparar a arma. O dedo de Márcio apertou o gatilho disparando um projétil que varou-lhe a testa em um pequeno furo e atravessou a cabeça deixando um buraco do tamanho de uma bola de tênis em sua saída. Roberto se levantou. Caminhou até a saída da casa onde se reunira com Marcio. Do lado de fora da casa uma pessoa lhe aguardava:
- Consegui?
- Ele engoliu como a um patinho.
- É amigo, agora a empresa é totalmente nossa. - Roberto esticou a mão para Evandro, cúmplice que lhe aguardava. Nela se encontrava uma pílula:
- Tome Evandro é êxtase, lembre-se o demônio trabalha com a mentira – Evandro em euforia engoliu a pílula. Não se passou um minuto e Evandro dobrou os joelhos:
- Roberto o que é isto? Aonde você vai? Que comprimido é este?
- O meu é açúcar, não se preocupe, logo nos veremos. Eu, você e Márcio logo nos encontraremos. - Evandro antes de perder a consciência pode ver as asas de Roberto surgindo em seus ombros e desbravando à noite.
Fim.