Em uma época distante no tempo, um ganancioso ladrão lançou uma bomba de fumaça, escondendo seu furto em uma grande neblina que confundia a todos que desejavam olhar o que se escondia por trás da fumaça. O ladrão, percebendo a grande curiosidade que chegara com o desconhecido, lançou outra bomba, outra e várias outras até que as cortinas de fumaça ficassem sobrepostas e o que se enxergava uma após outra era só neblina. Sim o roubo estava escondido e a cada descoberta na passagem da fumaça, de quem interessava saber, apenas se encontrava mais fumaça.
O descontrole chegou a tal ponto que o ladrão esqueceu o que deveria esconder, o que estava escondido. Os inocentes de informação começaram a lançar as suas próprias cortinas de fumaça até não existir mais nenhum inocente e a cortina de fumaça tomasse todos os cantos sem que as pessoas soubessem se a cortina era a realidade ou a realidade a cortina.
No conhecimento de todos que tudo era fumaça, mesmo o que não era, fumaça se tornou e a cada sorriso, cada expressão, cada passo, cada palavra a fumaça sempre era utilizada e as ações, todas, se tornaram distrações num universo em que a mentira tornou-se a verdade e a maior afirmação a verdade melhor contada.
Sábios que não sabiam conduziam seu rebanho a um paraíso que terminava em um abismo. Grandes personalidades afirmavam que a bebida e o fumo qualificava e transformava o homem com isso. Comportamentos obscenos julgados como serenos ditos por homens julgados santos. O amor dito em palavras de quem não sabia amar a quem não acreditava no amor que se falava. Mas o Sábio não caia no abismo, as grandes personalidades não bebiam ou fumavam, os santos não se afundavam em suas próprias palavras e quem falava amor não amava. Mas nem estes sabiam se a cortina de fumaça era lançada por eles ou estavam sendo conduzidos na fumaça de outros que acreditavam lançar.
Os homens que faziam as leis, faziam para não cumpri-las. Quem desenhava as casas, desenhava, mas não morava. As palavras de humildade e abstinência do material seguiam como faça o que eu mando, mas não faça o que faço. O inverso era a coisa seguida a quem não seguia o inverso.
No final tudo era fumaça, sem que ninguém soubesse se estava na sua ou outra fumaça lançada, nem mesmo tinham o conhecimento se estavam no início de um fim ou no fim do início e se tudo significava algo. Não sabiam se o ladrão realmente tinha algo a esconder, ou mesmo se o ladrão sabia.