Escrever é viver duas vezes um bom Momento.
Antonio C Almeida
SOMOS TODOS POETAS
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos
     20 ANOS ATRÁS
     As lágrimas saltavam-lhe olhos. O sangue cobria-lhe o corpo. Enquanto olhava para seu pai que acabara de atirar na própria cabeça, segurava sua mãe nos braços como a ninar, repetindo aquele gesto carinhoso que recebera, quando Raquel contava-lhe uma velha história.
     Um conjunto de luzes começou a se aproximar, parecendo estrelas a caírem,  chegando raivosas em sua face suja de sangue. Aos poucos a escuridão é tomada pela luz e as imagens se formam,  homens, facilmente identificados pelos trajes em eminente autoridade  e pela atitude, policiais: - Calma garoto, agora estamos aqui. - Falava-lhe seu salvador enquanto o garoto abria um tímido sorriso ...
 
     DIAS ATUAIS
     Sirenes, luzes e um número enorme de policiais cercavam uma pequena casa do subúrbio. Rogério para a sua viatura e lentamente caminha até a entrada da casa. Se identifica e lhe é permitido entrar. Tudo parecia em ordem. Logo na entrada um tapete verde com a inscrição "seja bem vindo". Depois da porta de entrada uma pequena mesa continha um pote onde podia-se ver chaves, carteiras e pequenas coisas que acompanham uma pessoa ao sair. Em sua frente um longo corredor com duas portas à direita, duas portas à esquerda e no fundo a porta que lhe interessava, do quarto do casal.
     O cheiro de morte tomava o quarto, o coração de Rogério quase saia-lhe pela garganta. Desejava que as condições dos corpos não o levasse a um dos casos mais complexos que enfrentara. Ele olha para as vítimas e ... 
 
     20 ANOS ATRÁS
     Raquel olhava carinhosamente seu filho enquanto folheava um velho livro e se preparava para continuar a história:
     "Quando a Duquesa aparece no campo, vai ao encontro de Alice com uma grande simpatia, e durante uma conversa admite a sua pretensão para encontrar uma moral em tudo ao seu redor, mesmo que não faça relação ou sentido. A Rainha de Copas despede-se dela sobre a ameaça de execução e apresenta Alice ao Grifo, sob o pretexto de a levar, apresentar à Tartaruga Fingida. Quando a encontram, ela demonstra-se muito triste, mesmo que não tenha motivos para sentir tristeza. A Tartaruga conta a sua história onde tenta justificar o seu estado depressivo, narrando com nostalgia o tempo em que vivia no mar, em que era uma verdadeira tartaruga, mas o Grifo interrompe-a de modo a poderem começar um jogo..."
 
      DIAS ATUAIS
     O quarto estava tomado por rosas verdes, um corpo se encontrava na cama, com vestido azul que passava-lhe do joelho acompanhado de um avental branco. A cabeça da bela estava cortada, devidamente colocada ao lado de seu tronco, junto a este a Rainha de Copas, carta de um jogo de baralho. Do lado da cama um corpo de um homem se encontrava em posição fetal, sua cabeça arrancada encontrava-se com as feições indicando tristeza. Nas costas um travesseiro lembrava uma carapaça. Rogério observava até ser interrompido:
     - O que é chefe?
     - A História da Tartaruga Falsa.
     Na delegacia Rogério procura em seus arquivos os detalhes de outros crimes ocorridos naquele ano. Ele mesmo colocara um título para cada posicionamento das vítimas:
     - A Lagoa de Lágrimas
     - Uma Corrida de comitê e Uma Historia comprida
     - Conselhos de uma Lagarta
     - Porco e Pimenta
     - Um chá de loucos
     - O Campo de Croqué da Rainha de Copas ...
 
     20 ANOS ATRÁS
     Raquel chegava para mais uma noite de contos para o seu belo filho, ao olhar as páginas e iniciar a leitura seu filho perguntou:
     - Mãe que conto é este mesmo? - Seguido de um belo sorriso.
     - Alice no Pais das Maravilhas! - Respondeu suavemente Raquel.
 
     DIAS ATUAIS
     O dia estava terminando. Rogério continuava em sua busca de respostas. A sua frente Marcelo, seu parceiro nas investigações o olhava curioso enquanto comentava:
     - Rogério, seguindo o seu raciocínio, falta o início desta história.  A queda na toca do Coelho Branco.
     - O assassino só pode morar aqui na cidade. Segundo a história tudo se passa em um jardim. O único jardim, grande o suficiente para os acontecimentos é no cemitério. - Rogério olhava para Marcelo como se conseguisse chegar a uma conclusão.
     - É isto Rogério! Siga a trilha das migalhas. Onde foi parar todos as vítimas, usadas como personagem da história?
     - No cemitério! Vamos seguir as migalhas. - Rogério e Marcelo levantam de suas cadeiras, pegam as suas armas e saem da delegacia ...
  
     20 ANOS ATRÁS
     Raquel caminha para o quarto de seu filho. Em sua mão carregava seu livro de leitura. Sua caminhada é interrompida com a chegada de seu marido. Bêbado tropeça na entrada e bate com a cabeça em uma cadeira. Ele olha para Raquel a culpando pelo acidente e começa a espancar. Seu pequeno filho sai de seu quarto e pôde ver a sua bela mãe sofrendo com a brutalidade de seu pai. Sabendo de uma arma escondida debaixo do colchão da cama no quarto do casal, ele vai até o quarto, pega a arma. Chega no corredor e aponta para seus pais agarrados em uma sangrenta briga.
     Dois disparos jogam o pequeno garoto para traz. Uma mão pega a arma recém disparada e uma voz chega-lhe ao ouvido: - Não foi sua culpa filho, a culpa foi minha, seu pai. - Mais um disparo ecoa pela casa, as luzes se apagam como a transformar tudo em uma grande cena de horror.
As lágrimas saltavam-lhe olhos. O sangue cobria-lhe o corpo. Enquanto olhava para seu pai que acabara de estourar a cabeça. segurava sua mãe nos braços como a ninar, repetindo aquele gesto carinhoso que recebera, quando Raquel contava-lhe uma velha história .
     Um conjunto de luzes começou a se aproximar, parecendo estrelas a caírem,  chegando raivosas em sua face suja de sangue. Aos poucos a escuridão é tomada pela luz e as imagens se formam,  homens, facilmente identificados pelos trajes em eminente autoridade  e pela atitude, policiais: - Calma garoto, agora estamos aqui. - Falava-lhe seu salvador enquanto o garoto abria um tímido sorriso ...
 
     DIAS ATUAIS
     Marcelo e Rogério chegam à porta do cemitério. Lápides altas caracterizavam um cemitério antigo, abandonado pelo tempo. A dupla caminha atenta entre os túmulos, sem saber ao certo o que procurava. Distante puderam ver o que parecia montes de terra devidamente arrumados, como se fossem provenientes de uma escavação. Aproximando-se da estrutura encontraram um buraco cavado com uma lápide contendo um epitáfio: - Aqui Jaz Raquel Álvares, querida mãe.
     Uma suave brisa tocava o rosto. Folhas se erguiam como a receber vida de tantos que se foram e se encontravam em seu descanso final na terra dos sepultados. A dupla se entreolharam e resolveram se separar para cobrirem um espaço maior.
     O tempo parecia não passar. A noite sem lua tornava a missão mais difícil, mas mesmo nestas condições pode-se ver um vulto, com luvas brancas correr entre as tumbas, um grito:
     - Alto lá!
     Iniciou-se uma perseguição. Um olhar atento seguia o suspeito. Se desviando dos obstáculos até deparar com uma grande árvore. Iniciou uma caminhada lenta e cautelosa, mas de súbito o terreno parece se abrir e um corpo escorrega e se vê cair em um grande buraco.
     Paredes enlameadas tomavam a entrada de um buraco de pequena profundidade, uns quatro metros. Arma na mão e o coração batendo descontroladamente traziam som ao silêncio na escuridão. Apenas uma luz no fundo do túnel, pequena, mas que cabia ser seguida. Uma mão no ombro anunciou um apontar de armas.
     Rogério e Marcelo se entreolham. Ambos caíram no que seria a toca do coelho. Começaram uma caminhada até a luz, que saia por baixo de uma pequena porta que guardava um quarto.
     Decorado com rosas verdes. Ao fundo uma cama. Na parede fotos de todos os crimes de Alice no Pais das Maravilhas. Uma cômoda ao lado da cama. Um tapete vermelho tomava todo o ambiente. Rogério caminhou até a cama.
     Uma caveira ainda com seus cabelos longos encontrava-se deitada na cama. Com vestido azul que passava-lhe do joelho acompanhado de um avental branco, mantinha em seus braços o livro de  Charles Lutwidge Dodgson, 1865, Alice No Pais Das maravilhas. Ao lado da cama, sobre a cômoda, um álbum de família se destacava. Rogério olhou as fotos do álbum, se voltou para Marcelo, ambos ergueram suas armas e no silêncio dos mortos rugiu três disparos.

PASSADO UMA HORA
     
          O cemitério estava tomado por policiais. O Delegado conversava com seu Detetive que mantinha-se com a cabeça baixa. Peritos entravam e saiam da "Toca Do Coelho". Uma maca carregada por dois homens passava ao lado do delegado que descobriu o rosto do então assassino:

     - Quem poderia imaginar que o assassino seria o nosso colega Marcelo. - Falava o Delegado visivelmente transtornado.
     - Eu não pude acreditar, mas as evidencias não negavam.      - Comentou Rogério abalado pelos fatos.
     Um tapa nas costas, um abraço prenunciou o fim do interrogatório. Rogério caminhou até o carro que chegara com o seu parceiro. Jogou um álbum de família sobre o banco de passageiros. Colocou uma luva branca no porta luvas e falou algumas palavras na solidão de seu carro:
     - Bom descanso mãe, você me viu acertar o tiro em meu pai. Agora Alice está morta.
     Fim ...




    
    
      
Antonio C Almeida
Enviado por Antonio C Almeida em 05/03/2017
Alterado em 15/03/2017
Comentários